[V.A. Artigo] A Outra Visão dos Deuses: Conspirações Estéticas
"O Sr. Lovecraft declarou de forma muito lúcida e sucinta o valor essencial e a validade da história de terror como arte literária, e não há necessidade de recapitular suas conclusões. Ocorreu-me muitas vezes que o interesse pelas histórias de horror e esquisitice é uma manifestação do impulso de aventura tão profundamente refreado na maioria de nós pelas circunstâncias físicas. Em particular, ele evoca um desejo - talvez uma necessidade espiritual profunda - de transcender as limitações comuns de tempo, espaço e matéria. Pode-se argumentar que este desejo não é, como muitos modernistas superficiais supõem, um desejo de escapar da realidade, mas um impulso para penetrar nas verdades que estão sob a superfície das coisas; para lutar e dominar os terríveis mistérios da existência mortal. A atitude daqueles que repreenderiam um gosto pelo horror e pela miséria e a descartariam como mórbida e insalubre, é simplesmente ridícula. A verdadeira morbidez, a verdadeira insalubridade, está do outro lado."
- C.A. Smith na Psicologia da História de Horror
Naquilo que germinei e espero colher alguns frutos dessas reflexões em fase de crescimento. Veremos que junto a perspectiva dos seres que habitam nossa mente pela Abertura (referenciada nas Margens Filosóficas) pulsional: tais ideias e existências possíveis carregam em efeito, elementos de um mundo mais Elementar, pois o Sobrenatural anda de mãos dadas com a margem da Existência, a possibilidade de satiros, minotauros e criaturas mágicas possuem essência que habita em nossas mentes, conhecendo-as pelo contínuo desvelar de formas derivadas da Offenheit num momento Hierofânico. Sobrevém sobre o indivíduo em lugares de fortes contatos sagrados a experiência de uma supra-Natureza que atua por todos nós. Temos vagas noções hoje de que a natureza é um ser vivo para'lém de nossa inerente e cruel racionalidade que nos força a enxergar tudo num vazio mecanicista. Onde falhamos comumente em ver a ação do Mundo como um ente organizado, multimutável e ditador de suas próprias regras, como vemos a Natureza agir quando a respeitamos, ela nos tolera, quando nos submetemos aos seus caprichos, adentramos em parte na ordem natural e oposta da artificialidade Capital. Deixamos a nossa maquinação escrava de peças numa máquina e adentramos uma nova região de resiliência ontológica que nos plasma com seu vigor supernatural. Isso é dito verdadeiro para os povos aurorais que enxergam o mundo como um completo corpus de Mitos e não apenas se restringem a eles pois somos atualizados pelos Mistérios da Noite.
Aqui quero encaminhar para essa maneira de embustear a realidade comum para a natureza mística e dessa natureza mística quero dar as mãos para o horror. Esse mesmo elemento que é presente na cratofania de um Deus, assim como é uma cratofania dos princípios desse Deus. O que tememos em ofender a Deus, abusar de seu nome e benevolência, suscitar os mais terríveis perjúrios é uma obra horrorosa na visão das Bacantes como em outras histórias divinas. A ira do sobrenatural abarca nossos Dæmons circundantes de todo o mundo, nossos espíritos ancestrais, nossos mortos perambulantes em forma de Almas.
Nesse repertório ilimitado, introduz uma fascinação já dita nos Rascunhos. Que é a expectativa do horror, o horror é uma insurgência de uma era na humanidade que o toque mais místico que podemos ter do Divino se deve a intensificação dos problemas humanos, a Morte, Terror, Genocídio e etc, infestam nosso cotidiano e principalmente nos relatos míticos e literários, são uma eterna questão das oposições da Vida afirmada. Elas ao mesmo tempo que rejeitam a Vida, engrandecem-na por assim agir, pois cumpre sua essência com efeito.
O que muda é a relação com que temos com ela, lembrai que em uma visão que correlaciona o todo com seus efeitos, como Heráclito dançava ao redor de suas reflexões e que Nietzsche a desnudou em seus primeiros trabalhos, em parte revelam uma epifânia, pois, ao conhecer a existência necessária dos Opostos, engrandecemos nós mesmos uma completude maior do Ente. Um jogo de mediações, um jogo de natureza divina, o resplandecer de aspectos superiores em reflexão no nosso mundo.
Aqui espero culminar o broto do Sagrado no Horror: o Horror em todas as suas formas remetem a um aspecto natural e hoje reforçado mais do que qualquer coisa no cotidiano, o medo, seja dos aspectos humanos criminais ou de efeitos da natureza e aqueles que crêem ver algo que perpassa o natural.
Nesse meio está o que a literatura de horror é capaz de encaçapar em um molde de variados escultores a definí-la.
Nos mais variados modos de se conceber o medo, aí está a imagem de uma parede, atrás dessa parede reside o desconhecido, nesse desconhecer buscamos transcender a mera familiaridade, pois o que é familiar é conhecido, e o que é conhecido é risível em sua integridade; nessa quebra do familiar encontramos um aspecto que poderíamos tomar como Supremo Outro, aquele que escapa nosso sentido moderno de mundo, e invoca mundos novos que estão a par da ferrenha racionalidade ceticizante.
Nesses modelos desdobrantes, são concebidos mundos possíveis que não são menos reais que nosso próprio Mundo, o que concebemos é Real pois somos capazes de habitá-los, sem a necessidade de um corpo físico, podemos desvelar o que é possivelmente real nessas flutuações da imaginação, ela mesma uma ferramenta de compreensão mais do que uma abstração. E ela necessariamente trata do que é válido para nós, acaso não o fosse, ela em nada teria de relacionado com nós, seja interiormente ou exteriormente; para isso não podemos negar a substância da fantasia, do Mito, do que é Possivelmente Real.
É nesses Mundos Abertos que investigamos parte dos Mistérios do Cosmos, ultrapassando a limitação do "Falso Real" material e adentramos numa camada transcendental.
Aí encontramos o Fascinador Primordial e o Reino das Formas Infinitas, limitadas pela ideia original de todos os Seres, caminhando como um estrangeiro em estranhas Terras do Sagrado, um Sagrado inesperado, a manifestação de Reinos não-formados do Infinito.
Nessa Fascinação nos perdemos no Objeto sublime Primordial, sentimo-nos plenos no espírito do Mistério, assim são feitos tantas histórias sobre tudo, nos encontramos perdidos na "escuridão" (perdidos no breu do Não-Ser, no seio do que pode habitar), estamos no Seio da Noite.
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