[S. Artigo] Ensaio de Matese e Metafísica: Sobre a Causalidade.

 



Na pura filosofia, se define causa como o princípio eficiente de uma realidade que não tem perfeição suficiente para subsistir por si mesma, dependendo de outro real para se fundar como real. Portanto, a causalidade é relacionada, igualmente, a efetualidade, isto é, ao efeito, sendo de naturezas interdependentes ontologicamente (como afirmam os budistas como Nāgārjuna, mesmo que as conclusões deles sobre isso sejam precipitadas), ademais, sem o efeito, nada poderia se predicar como “causa” do que nem sequer é efetuado, portanto, a noção de causa é, essencialmente, pela via relacional do efeito para com sua realidade eficiente. Disso seguimos que:

1) A causa e o efeito tem necessidades recíprocas em essencialidade, mas a causa não depende do efeito em existencialidade, pois é necessário existir ante ao efeito para o fundar no ato posterior.

Assim, dessa tese basilar, seguimos que a causa tem noção inerente com a ideia de substância, isto porque a causa inere ao efeito, lhe dando realidade, seja material, formal, eficiente ou final. Portanto:

2) Toda causa é substancial ao efeito, assim sendo, não é contingente, mas fundação necessária para a realidade do efeito enquanto ente efetuado.

Se a causa é substancial ao efeito, ela pode ser idêntica, simile ou totalmente diferente do efeito. Mas se for o primeiro caso, não haveria qualquer propriedade que iria diferir o efeito enquanto efeito da causa, sendo uma e mesma realidade, portanto. Se for o terceiro caso, seria um absurdo chamar o que causou o efeito de causa, pelos seguintes motivos que o sábio Iśvarakṛṣṇa relata:

Porque uma causa eficiente pode produzir apenas aquilo para o qual é eficiente (śaktasya śakyakaraṇa); e, porque o efeito é da mesma essência que a causa (kāraṇa bhāva).” (Sāṃkhya kārikā, IX)

Ora, se o efeito não fosse da mesma essência que a causa, não seria efeito de tal causa, mas de outra, pois toda causa produz de acordo com as próprias potências que lhe são comuns, por exemplo, a água não pode produzir a madeira, pois não lhe é um efeito em potência próxima. Disso concluímos que:

3) A causa e o efeito tem peculiaridades comuns e similares, nem absolutamente idênticas, nem absolutamente diferentes, mas análogas.

Partindo de tais afirmações, podemos adiantar que a causa é mais perfeita que o efeito, pois se o efeito tivesse uma perfeição maior do que a causa, não poderia partir de tal (pela tese 2), mas teria outra causa que concederia essa outra perfeição; tampouco poderia ser uma perfeição idêntica, pois senão a causa seria destruída no ato da criação do efeito, concedendo toda sua perfeita potencialidade a tal, o que é impossível. Logo:

4) A causa é eminente em perfeição ao efeito.

Assim sendo, podemos ir mais além e também afirmar que a noção de causalidade pode ser ontológica ou cronológica aos termos anteriores e posteriores, pois alguns efeitos não são temporais, mas têm sucessão ontológica em níveis de ordem, seja de perfeição, potencialidade, essencialidade, existencialidade, atividade, etc, tais como os atributos de Deus que são posteriores à realidade divina, pois dependem dela para existir. Deste modo:

5) A ideia de causalidade está fundada nos termos de anterioridade e posterioridade, tais podendo ser ontológicos ou cronológicos.

Também se segue que o efeito não pode existir sem uma causa que não ele mesmo, já que se fosse o caso, seria causado do nada ou de si mesmo, se do nada privativo, nada poderia ser, porque o nada não tem qualquer potencialidade de criação, neste aspecto. Se de si mesmo, seria anterior a si mesmo, o que é absurdo, pois uma coisa não pode ser anterior e posterior a si mesma. Logo:

6) Nas ordens de causalidade é impossível o círculo.

Um dos principais pontos, igualmente, para se fundamentar a causalidade é que é impossível uma sucessão ao infinito de causas, pois se houvesse infinitas causas, haveria infinitos termos médios entre o efeito e a causa remota, não tendo um princípio, assim, não tendo, também, causalidade alguma. Assim sendo:

7) Nas ordens de causalidade é impossível haver causas infinitas.

Disso se conclui, do mesmo modo, que cada ordem de causalidade tem um princípio primeiro, ao qual os filósofos pitagórico-platônicos chamaram de Mônada, portanto:

8) Toda ordem de causalidade é redutível a um termo primeiro que é monádico. Assim, toda teoria de causalidade é monadologia.

Se há uma mônada para cada ordem de causalidade, também haverá uma mônada principiante de todas essas ordens de causalidade, deste modo:

9) Toda monadologia matética pressupõe uma causa primeva para todas as ordens.

Se há para todas as causas um princípio unitário, deduz-se que a unidade é princípio por excelência de todos os efeitos. E tudo que é mais uno é mais simples, pois um complexo envolve muitas partes das quais o criam, o simples, não. Disso se segue que:

10) Toda mônada é um princípio mais simples e uno que os múltiplos efeitos.


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