[V.A. Conto] O Mensageiro Adormecido



Se as nossas preocupações com o passado histórico do mundo se esvaíram em nossos séculos civilizacionais, então somos idiotas o suficiente por descreditar algumas superstições de povos antigos que habitavam o México a milhares de anos atrás. O substrato de seus relatos e profecias indicam um medo exterior a nossa realidade, que pouca literatura assombrosa realmente conseguiu exprimir em suas páginas como meio de fustigar alguns sentimentos que levamos ao absurdo de ser transformado em entretenimento.

As manchetes sensacionalistas já relataram que logo será o “Fim do Mundo” por decorrência do calendário Maia terminar seu ciclo de 5.125 anos e resultar em sua última data escrita 21 de dezembro de 2012 e que para a maioria dos telespectadores é apenas uma crença estupida por ser resultado de algo moldado em uma pedra antiga. Diante do que especulo, ocorre e ocorrerá mais desaparecimentos ao redor do mundo e suponho conhecer a causaque agora se revela maior e pior do que qualquer vivente mundano notará até tal dia final.

Durante algumas expedições amadoras em cavernas na região de Chicxulub notavelmente formadas há muito tempo, padrões notáveis de construções indígenas soterrados por transformações naturais geológicas na região (abordadas por matérias recentes de tremores subterrâneos notados por cidades próximas a tais cavernas); as pessoas que viajam para apreciar paisagens naturais clamaram que ouviram sons muito altos em certas regiões e que foram notadas por muitos quilômetros como foi noticiada antes por jornais, nesse caso, os viajantes encararam com um horror descabido os terremotos bem delimitados por uma curiosa região: foi assim que me transportei a esses malditas cavernas que descaracterizam toda possível sanidade após futilmente tentar renegar toda uma infernalidade anti-natural.

Trabalhei em algumas Universidades, fui professor convidado na Universidade Miskatonic, chamado por resultados notáveis no campo da antropologia e história, o que me foi exposto pelos principais professores do setor de arqueologia me fascinou além de toda a imaginação, investigações recentes noticiadas na península de Yucatán revelaram certos locais demarcados que nos terremotos ocorridos abriram novas grutas que expuseram novas construções subterrâneas de civilizações escondidas a milênios, à primeira vista supuseram ser locais sagrados Maias e tivemos esperança de talvez encontrar algo mais antigo que esses povos pois alguns relatos de objetos emergidos denotam uma forma não encontrada em nenhuma cultura humana registrada até agora, o que chocou grandemente a comunidade científica. Assim, me vi obrigado a respeitar o convite e adentrar a equipe arqueológica que formalizou-se duas semanas após o pedido. Juntou-se a mim o Sr. Joseph Armitage, neto do famoso Henry Armitage que encabeçou a curadoria da grandiosa biblioteca da Universidade Miskatonic. Eu, o professor Joseph e mais alguns graduandos formalizamos uma equipe pra desbravar essas ruínas perdidas no tempo; é de se esperar que uma equipe com nada mais que 20 indivíduos fosse o suficiente para lidar com qualquer problema durante a viagem, fomos divididos em duas equipes de dez para preparar e organizar os equipamentos e a outra pra cuidar da burocracia ambiental necessária pra estudar esses pedregulhos velhos, foi um lento processo, abalou nossos ânimos até que a boa persuasão do Sr. Joseph ajudou-nos no andamento da liberação, com isso finalizado, seguimos em direção a uma região pouco habitada por pessoas “da nossa época” por assim dizer, agimos com curiosidade a esses habitantes solitários e tentamos firmar uma confiança com quem fosse amigável, buscamos também o relato de viajantes que balbuciavam o tal tremor falado nos jornais e nas matérias divulgadas na internet.

Alguns desses indivíduos eram supersticiosos pelo jeito que aparentavam falar, dizem que fora algum tipo de voz ou grito que veio junto ao terremoto local, uma voz que não era nada como se poderia conceber, não era um pedido de socorro nem nada do tipo, relataram um ou outro que era algo estridente e rouco algo num intermédio disso, o que é sem sentido por serem opostos, alguns disseram que seu volume as ensurdeceram por algumas horas e outras desmaiaram assim que ressoou o terremoto, ferindo-se durante o período de queda, notícias mais recentes contadas pelos jornais reportaram que os indivíduos investigados sumiram de seus lares e seus parentes andam a procura deles; estranho é, isso ocorreu ao redor do mundo. Investigações internacionais foram feitas pra achar essas pessoas, assustando muito todos os perambuladores locais que apreciavam a excursão por esses sítios. Refleti que estávamos em um daqueles episódios dentre os vários casos curiosos na humanidade de acontecimentos singulares sem muitas explicações, pois mesmo semanas após investigarem toda e qualquer possível causa, nada acharam, buscas não levaram a um fio de qualquer indício.

Chegando ao primeiro grupo no dia 15 de Março de 2011, as nove em ponto da manhã, após os descansos; adiante as investigações realizadas nas entradas mais expostas da gruta, alguns dos graduandos reclamaram de um certo odor e horror superficial ao aproximar do buraco, demos um tempo pra esses, seja por falta de experiência em campo ou alguma fobia pessoal, exercitamos algumas conversas pra normalizar o humor desses homens da equipe.

Começamos a operação de descida, o fosso era abismalmente alto e qualquer falta de atenção levaria a morte, dizem alguns dos indivíduos da equipe que certas cavernas ainda resguardam muito dos espíritos dos antigos habitantes, consultando alguns dos membros do grupo, alguns tinham ouvido tais murmúrios enquanto preparavam as cordas, suprimentos e outras coisas nas cidades próximas, senhores de idade avançada, alguns devaneavam com o que estaria próximo de chegar, semanas mais tarde todos os senhores sumiram durante o período em que explorávamos... a equipe estava então passando dos 3 quilômetros de altitude o que superou em muito nossas expectativas por ter sido habitada.

Conseguindo alcançar a superfície do abismo, preparamos assim os equipamentos de polia para escalada rápida que levou alguns dias pra montarentão, começamos a bisbilhotar segredos antigos. A princípio a caverna parecia comum, com alguns traços aqui e ali de mão humana, estudando as entradas brevemente, parece que algum grupo Maia que desviou-se do todo, vieram parar em algumas formações terra adentro resultando em algo particular pra esse grupo em si; sua cultura denotava um aspecto religioso com a morada, traços notavelmente deificados, porém, havia algo indescritivelmente peculiar registrado junto a esse culto do abismo, era uma mistura semi-amorfa e levemente antropomórfica da representação divina ainda que com algumas configurações que não conseguíamos compreender junto a tais ilustrações esquecidas pelo tempo que foi caso de bastante discussão entre nosso grupo, uns ficaram assustados, todavia, muitos estavam de ânimos fortes chegando a preencher nossas esperanças de algo grandioso e perdido. Posteriormente fomos adiante notando as formações e construções incrivelmente adaptadas pra se integrar a caverna, pois quanto mais adentrávamos, maior era a circunferência do túnel até chegar num espaço inacreditavelmente grande como um grande golfo subterrâneo, suponhamos que era uma formação auxiliada da queda do famoso meteoro que se abateu sobre a Terra no período jurássico, graças a um dos nossos colegas, professor Williamson do departamento de geologia que investigou as formações e composições confirmando nossas suposições. Indo além, preparamos um posto de pesquisa que  com decorrer dos dias, registramos mais aspectos fascinantes, de acordo com folclore repugnante empreendido em artes primitivas nas paredes que eram notáveis por não ser de característica desse grupo distinto, era algo mais antigo, remontava ao período Paleozoico… Entramos em um estado de assombração, pois os relatos do primeiro hominídeo ainda não batem com a época da arte na parede.

Com horror e ainda mais forte a coragem estúpida de um ávido cientista; isso alimentava e atormentava meus ânimos e o de toda equipe. Os dias se passaram enquanto ficávamos enfurnados nesse abismo esquecido por Deus; várias foram as tentativas de registrar e interpretar esses desenhos profanos, conseguindo com dificuldade pois além das formas pictóricas nas paredes: havia uma espécie de alfabeto rude entre eles em que conseguimos achar padrões e anotamos o que se preservou como está aqui:

“Eras e mais éo.. os dias ínfimos... hab... nos confins do nosso senhor .......... somos suas mãos, me...s e sua grandeza irá emergir... partes do todo.......... se reunirão...”

Se não fosse pela ação do tempo, poderíamos recuperar um texto bem maior, infelizmente nosso filólogo durante seus dias fortemente obcecados com essa língua, ficou sem comer durante todo o período de tradução, infelizmente tivemos que retirá-lo da excursão, pois estava realmente estranho e febril. Fazia poucas semanas que apenas havíamos entrado nesse abismo e não saímos da porta de entrada, note-se o tamanho deste golfo subterrâneo horrendo e maldito.

Enquanto as artes pictóricas representavam algo como o que ocorreu após a colisão do meteoro... além do fato de que boa parte dessas formas pictóricas está apagada, o restante está manchado ou dissolvido, algo foi extraído dessa parede, parecia ser um objeto cerimonial como um formato quase que totalmente esférico, de uma precisão impressionante, tal item foi enviado pra equipe de análise que após algumas horas relataram que seus componentes minerais eram mesclados com uma forma estranha de algo semi-sólido e parcialmente borrachoso, por dentro veio a grande surpresa: continha carne ou algo do tipo! O odor expelido por isso foi inexpressável tamanha estranheza de sua textura, cheiro, sensação? Não sei o que dizer com isso além do fato de que parecia algo totalmente sacrílego de se ponderar, guardamos essa amostra pois tão logo foi necessário se desfazer de tal cheiro ou logo iria nos enlouquecer! Começávamos a ficar assustados com o que poderíamos encontrar — com um dever que apenas o cientista não deve temer, tentamos nos dissuadir do medo e persistir.

Já era hora de imergir nas profundezas inexploradas deste lugar, estava no momento de conseguir resultados maiores, indo e indo muito além, chegamos a uma área de monólitos que facilmente se confundiria com as formações espeleológicas dessas cavernas, sua forma possuía um comprimento difícil de mensurar e quando notamos a linha inferior, ela dava a um abismo que ao fundo parecia ter alguma luz, quando digo fundo, a vertigem de olhar o faz perder os sentidos e quase cair lá, de tão absorvido que você fica pelo abismo que te olha. Nesses monólitos havia mais da arte pictórica porém em tamanho excepcional, retratando ao que parecia ser estrelas e galáxias, vários planetas tinham o que parece ser uma bola mais como uma verruga enorme junto ao planeta, espalhado entre muitos e muitos planetas com ela, havia uma maior, inconcebivelmente grande, era como se fosse um sol em comparação a essas estrelas e... parecia ter membros ou algo do tipo, seu formato era deformado pela imperfeições na pilastra da caverna. Quase passando despercebido, visto de relance nas voltas do monólito, foi percebido desenhos bem imprecisos de várias formas de vida que mesclavam membros de várias espécies, parecia uma alucinação isso em especial, pois mal conseguimos suportar ver, outros registraram enquanto víamos um meio pra ir ao buraco, tivemos que montar mais uma polia e começar a descer.

Tamanho foi o erro e tamanha foi nossa imbecilidade. Havíamos chegado ao máximo que suportávamos do calor da proximidade do núcleo terrestre, foram dias até chegar o mais fundo apenas para dar de cara com uma formação profunda que se movia, as entradas e os pisos fluíam com formas nos chãos e paredes semelhantes a proboscídeos e bocas de incontáveis dentes e suas vozes malditas tinham uma força hipnotizante que ardia em nossos cérebros como um sigilo marcado em um escravo, nossos corpos ficavam imóveis enquanto umas centenas quem sabe milhares de cabeças formavam e se amorfavam junto as bocas e membros que não ouso articular no papel. Corremos como loucos enquanto fugíamos e nos batíamos dentro daquele submundo habitado por algo que minhas lembranças não querem ignorar na minha ardente cabeça. Hoje algo atormenta minha mente, trechos advindos de alguns tomos supranaturais que li arrependido durante minha estada na Universidade Miskatonic; tais qual o livro maldito do Árabe louco, o Necronomicon, de acordo com que alguns de seus fragmentos profanos incessantemente a cada minuto esmagam sobre mim e minha última luz de integridade:

Jaz sob e sobre este mundo, em abismos siderais insondáveis para o mais prepotente ser, prenúncios de terrores que as estrelas mais antigas já encontraram e que cessaram sua existência no tempo, sóis perderam seus filhos e alguns se desfizeram junto com a presença do Mensageiro Que Adormece, pois Ele é o sopro final de muitas astros e raças, sistemas e galáxias, a ligação e o transitador entre as várias camadas da vida e atormentador do equilíbrio dos universos, O Suprassumo S****f*ho**a.”

Sentia como se todo o mundo acima de nós fosse desabar; terror e mais terror, a caverna estava prestes a colapsar pela coisa aqui escondida! Aos tropeços e gritos, enquanto passava adiante dos corpos dos meus colegas de equipe distorcidos pelos membros do abismo os quais horrores que a mente humana mal consegue conjecturar no devaneios mais poderosos do mais hábil sádico, entendi o que as pinturas começavam a formar em minha mente. Tudo não passa de um fragmento que habita entre nossos mundos, sua fonte distribui suas partes para vários recantos do universo para um dia se reunir... Chegando ao acampamento, tudo estava tremendo, e aquelas vozes voltaram mais alto que um trovão, por algum milagre ainda mantive minha audição e minha sanidade só voltou aos lampejos após conseguir escapar, lampejos de memória vêm a minha cabeça sobre o que acometeu a expedição; morrer ou matar pra sair daquele pandemônio de gritos e formas nas paredes tomando insinuações de tentáculos e olhos, enquanto dei uma breve olhada no que restava das paredes tive uma visão que se formou na parede, o que veio do meteoro não se refugiou aqui, veio se saciar...

Acordei acima das profundezas, ensanguentado e cansado, quase ao ponto de colapsar novamente. Consegui usar um dos carros que estava com os vidros quebrados e muitos equipamentos espalhados por todo o local enquanto o tremor se repetia, enquanto avançava pra maior cidade próxima, fui auxiliado por cidadãos locais e no hospital mais próximo descansei, era dia 31 de janeiro de 2012, fiquei absorto, pois o período passado naquele inferno não dava 4 meses de duração, inconcebível a mim além do tempo foram as matérias de jornal que reportavam mais desaparecimentos por todo o mundo junto com as mesmas reclamações de gritos incompreensíveis de fontes inumanas. Não sei se o devaneio dos antigos Maias podem datar a exata data do que suspeito que seja o Fim do Mundo, mas a certeza que tenho é que isso será um prelúdio para novas aberrações surgirem por todos os continentes e governos presenciarem o colapso dessa nossa falsa soberania, outros Grandes Antigos podem emergir junto se Abdul estiver certo quanto a seu Verbo revelador, mas pouco conhecido...


Reportagem de TV na data de XX de dezembro de 20XX:

 

“De acordo com matérias recentes, vários tremores foram sentidos através de muitos países e súbitos levantamentos de colisões das pedras tectônicas foram informadas por muitos departamentos de segurança ambiental e marinha dos vários estados, ouviram-se além disso rumores na Internet sobre pessoas desaparecidas retornarem diferentes, porém nada confirmado pelas autoridades oficiais.”




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