[V.A. Conto-Tradução] Clark Ashton Smith — Ubbo-Sathla (1933)

Clark Ashton Smith


“Pois Ubbo-Sathla é a fonte e o fim. Antes da vinda de Zhothaqquah ou Yok-Zothoth ou Kthulhut das estrelas, Ubbo-Sathla habitava nos pântanos fumegantes da nova Terra feita: uma massa sem cabeça nem membros, desovando os cinzentos, informes protótipos da sinistra vida primitiva… E toda vida terrestre segundo se diz, retornará finalmente através do grande círculo do tempo a Ubbo-Sathla.”
- O Livro de Eibon.

 

Paul Tregardis achou o cristal leitoso em uma pilha de tranqueiras de muitos locais e eras. Ele adentrou a loja de um vendedor de preciosidades através de um impulso despropositado, com nada em mente, nada a não ser ociosa distração de observar e analisar a variável coleção de objetos. Olhando descontinuamente sobre, o que captou sua atenção foi um brilho opaco sobre uma das mesas; ele havia retirado a estranha pedra de formato orbital de sua superfície sombria, aglomerado junto a um ídolo asteca feio, o ovo fossilizado de um Dinornis¹, e um fetiche² de madeira negra obsceno do Níger.

O objeto tinha o tamanho aproximado de uma pequena laranja e estava levemente achatado nas bordas, como um planeta em seus polos. Tregardis ficou intrigado, por não ser nada comparado a um cristal comum, turvo e mutável, com um brilho intermitente em seu cerne, como se estivesse alternando entre iluminando e escurecendo de seu interior. Segurando frente a janela de inverno, ele estudou aquilo por um tempo sem ser capaz de determinar o segredo dessa alternação regular e singular. Sua perplexidade foi logo intrincada por um senso vago de darwinismo e familiaridade inconcebível, como se ele tivesse relembrado algo que antes em circunstâncias que agora foram integralmente esquecidas.

Ele apelou para o vendedor, um hebreu nanico com ares de antiguidade pulverulenta, que passou a impressão de estar perdido em ponderações comerciais sobre alguma trama de reverência cabalística.

“Você pode me dizer algo sobre isto?”

O revendedor deu um encolhimento indescritível e concomitante de seus ombros e de suas sobrancelhas.

“É muito antigo, pode-se dizer. Não consigo te dizer muito, pois pouco é sabido. Um geólogo encontrou-o na Groelândia, sob o gelo glacial, na camada Miocênica. Quem sabe? Talvez tenha pertencido a algum feiticeiro da primeva Thule. A Groelândia foi uma região quente e fértil, por baixo de um sol de tempos Miocênicos. Sem dúvidas acerca de ser um cristal mágico; um homem talvez possa ter visões estranhas em seu coração, se observando-o por tempo suficiente.”

Tregardis estava bem espantado; pela aparente sugestão fantástica do vendedor que reservou-lhe perambulações mentais acerca desse ramo de obscuro saber; e, particularmente, remontou-lhe O Livro de Eibon, o mais estranho e raro dos volumes de ocultismo alheio ao que é conhecido, que se diz ter atravessado uma série de múltiplas traduções de um original préhistórico escrito no idioma perdido de Hiperbórea. Tregardis, com exacerbada dificuldade, conseguiu obter uma edição medieval francesa — uma cópia que esteve sob posse de ancestrais gerações de feiticeiros e satanistas — mas nunca foi capaz de botar nas mãos o manuscrito grego do qual tal edição derivou.

O remoto e fabuloso original deveria ter sido obra de um grande feiticeiro Hiperbóreo, de quem havia tomado seu nome. Era uma coleção de mitos obscuros e nefastos, de liturgias, rituais e encantamentos ambos sendo malignos e esotéricos. Não sem arrepiar-se, no decorrer dos estudos que uma pessoa comum teria considerado mais que singular, Tregardis compilou o volume francês com o temível Necronomicon do árabe louco, Abdul Alhazred. Ele achou várias coincidências do mais obscuro e hediondo significado, juntamente com muitos dados proibidos que eram desconhecidos do árabe ou omitidos por ele… ou por seus tradutores.

Era isso que ele havia tentado recordar, Tregardis se interrogava? — a breve, casual referência, no Livro de Eibon, de um cristal embaçado que esteve em posse do feiticeiro Zon Mezzamalech, de Mhu Thulan? É claro, tudo era muito fantástico, demais hipotético, sobretudo incrível — mas Mhu Thulan, aquela porção ao norte da antiga Hiperbórea, deveria ter correspondido mais ou menos com Groenlândia moderna, que antes tinha sido unida como uma península ao continente principal. Poderia esta pedra em sua posse, por alguma sorte impensável, ser o cristal de Zon Mezzamalech?

Tregardis sorriu para si com uma ironia sobrepujante por simplesmente conceber tal relação absurda. Tais acontecimentos não ocorrem — pelo menos, não em Londres, nos dias de hoje; e, com toda probabilidade, O Livro de Eibon era pura fantasia supersticiosa, de qualquer forma. Ademais, havia algo sobre o cristal que continuou a provocar e atrai-lo. Ele acabou por comprá-lo, a um preço moderado. A soma foi nomeada pelo vendedor e paga pelo comprador sem barganhar.

Com o cristal embolsado, Paul Tregardis apressou-se a voltar para seus alojamentos em vez de retomar seu passeio. Ele instalou se globo leitoso sobre sua escrivaninha, onde estava firme o suficiente em uma de suas extremidades achatadas. Então, ainda sorrindo sobre seu próprio absurdismo, ele retirou o manuscrito de pergaminho amarelo de O Livro de Eibon de seu lugar em uma coleção de literatura requintada e de certa forma inclusiva. Ele abriu a capa de couro vermiculado com trava de aço manchado, e leu para si, traduzindo do Francês arcaico enquanto lê, o que se refere a Zon Mezzamalech:

“Esse mago, o qual grandioso foi entre feiticeiros, encontrou uma pedra embaçada, orbital e que de sobremaneira atenuada nas bordas, no qual ele concebeu muitas visões de um passado terreno, nos primórdios da criação da Terra, quando Ubbo-Sathla, a fonte não-criada, jaz vasto e inchado e turbulento em meio ao vapor de borbulhas… Mas do que ele viu, Zon Mezzamalech deixou poucos registros; e as pessoas dizem que ele desapareceu presentemente, de uma forma que não é conhecida; e depois dele o cristal embaçado se perdeu”.

Paul Tregardis botou o manuscrito de lado. Novamente foi algo que o atormentou e o seduziu, como um sonho perdido ou uma perda de memória para o esquecimento. Impelido por uma sensação que ele não escrutinizou ou questionou, ele se sentou ante a mesa e começou a fitar intensamente o gélido, orbe nebuloso. Ele sentiu uma expectativa que, de algum modo, eralhe tão familiar, que permeava uma parte de sua consciência, que não poderia nomear nem pra si mesmo.

Minuto após minuto ele se sentou, e observou a variável e dissipante brilho misterioso no cerne do cristal. Por graus imperceptíveis, furtava-se sobre ele uma sensação de dualidade de sonho, ambos em relação a sua pessoa e seus arredores. Ele ainda era Paul Tregardis — e ainda assim era um outro alguém; o cômodo ainda era o apartamento de Londres — em uma câmara em algum longínquo porém bem conhecido local. E em ambos os meios, ele espreitou com firmeza o mesmo cristal.

Após um interim, sem surpresa alguma por parte de Tregardis, o processo de re-identificação estava completo. Ele sabia agora que ele era Zon Mezzamalech, um feiticeiro de Mhu Thulan, e um estudante de todo saber anterior a própria época. Sábio que funestos segredos que não eram notados a Paul Tregardis, amador em antropologia e ciências ocultas da tardia Londres, ele procurou por meio do cristal leitoso de atingir um conhecimento ainda mais antigo e temeroso.

Ele adquiriu a pedra por meios dúbios, de uma fonte mais que temível. Era tão única e sem paralelo em qualquer lugar ou tempo. Em seu interior, todos os antigos anos, todas as coisas que já foram, estão supostamente espelhadas, e revelarão ao visionário paciente. Através do cristal, Zon Mezzamalech sonhou em recobrar a sabedoria dos Deuses que morreram antes da Terra vir a existência. Eles atravessaram o vazio negror, largando toda sua história nas tabuletas de pedra ultra-estelar; as tabuletas foram guardadas no fosso primordial pelo amorfo, demiurgo estúpido, Ubbo-Sathla. Apenas por meio do cristal ele teria esperança de alcançar e ler as tabuletas.

Pela primeira vez, ele estava fazendo o teste das reputadas virtudes do orbe. Acima dele uma câmara com revestimento de marfim, entupida com seus grimórios mágicos e parafernálias, estavam se dissipando de sua consciência. Ante ele, sobre uma mesa de alguma madeira enegrecida Hiperboriana que foi entalhada com grotescas cifras, o cristal parecia ampliar e aprofundar, e em sua profundidade material, ele viu um rápido e fragmentado redemoinho de cenas semi-inteligíveis, fluindo como água jorrando de um moinho. Como se olhasse para um mundo real, cidades, florestas, montanhas, mares e prados corriam sob ele, clareando e escurecendo com a passagem de dias e noites em alguma linha do tempo estranhamente acelerada.

Zon Mezzamalech esqueceu-se de Paul Tregardis — havia perdido as lembranças de sua própria existência e arredores em Mhu Thulan. Momento a momento, a visão que fluía no cristal tornou-se cada vez mais distinta e clara, o orbe em si arraigou-se até atordoá-lo, como se ele estivesse bisbilhotando através de uma altura insegura a um Abismo nunca sondado. Ele sabia o tempo estava correndo inversamente no cristal, estava desenrolando para ele os eventos de todos os dias passados; porém um estranho alarme o atiçou, ele temeu continuar observando. Como alguém próximo de cair num precipício, ele se segurou com agressiva iniciativa e se afastou do orbe místico.

Mais uma vez, ao olhar, o monumental mundo rodopiante no qual ele havia espreitado era um cristal pequeno e nublado em sua mesa em Mhu Thulan. Então, aos poucos, parecia que a grande sala com painéis esculpidos de marfim de mamute estava se estreitando para outro lugar mais sujo; e Zon Mezzamalech, perdendo sua sabedoria preternatural e seu poder mágico, retornou por uma estranha regressão a Paul Tregardis.

E, no entanto, não foi totalmente, ao que parecia, ser capaz de retornar. Tregardis, atordoado e imaginando, se encontrou diante da mesa de escrita sobre a qual tinha colocado a esfera achatada. Ele sentiu-se confuso como alguém que sonhou mas não havia retornado inteiramente do mundo onírico. A cômodo o intrigou vagamente, algo parecia estar errado com o tamanho e os móveis; e sua lembrança de adquirir o cristal do antiquário estava bizarra e discretamente misturado com a impressão de que ele o havia adquirido de uma maneira muito diferente.

Estava notando que algo bem estranho ocorreu com ele quando perscrutou o cristal; mas o que era ele não conseguiu adivinhar. A sensação deixou-o numa espécie de confusão psíquica que se segue a um episódio de haxixe. Ele garantiu para si mesmo que era Paul Tregardis, que vivia em uma certa rua de Londres, que o ano era 1932; mas tais verdades comuns haviam de alguma forma perdido sua e sua validade; e tudo sobre ele era sombrio e insubstancial. A próprias paredes pareciam esvaecer como fumaça; as pessoas nas ruas eram fantasmas de fantasmas; e que si próprio era uma sombra perdida, um eco vagante de algo há muito esquecido.

Resolveu que não iria mais repetir o experimento de olhar o cristal. Os efeitos, desagradáveis e enganador. Todavia no dia posterior, ele cedeu a um impulso que não era racional quase que mecanicamente, sem pestanejar, situou-se frente ao orbe nebuloso. Novamente ele se tornou o feiticeiro Zon Mezzamalech em Mhu Thulan; de novo ele sonhou em recuperar o saber de deuses profanos; dirigindo-se mais uma vez ao fundo do cristal com o terror de quem teme cair; e uma vez mais — hesitante e penosamente — era Paul Tregardis.

Três vezes repetiu-se a experiência consecutivamente pelos dias; cada vez sua própria entidade e o mundo sobre ele se tornavam mais tênues e confusos do que antes. Suas sensações eram a de um sonhador a beira de levantar-se; a própria Londres era irreal como as terras que escorregam do imaginário dos sonhadores, recuando em breve névoa e luz intensa. Acima de tudo, ele sentiu a iminência e o amontoado de vastas imagens, alienígenas porém meio familiares. Era como uma fantasmagoria do tempo e espaço estivessem se dissolvendo acima dele, a revelar alguma realidade verdadeira — ou outro sonho do espaço e tempo.

Então sobreveio, enfim, o dia em que ele sentou-se de frente ao cristal — e não retornou como Paul Tregardis. Era o dia em que Zon Mezzamalech, audaciosamente desprezando certas advertências nefastas e presságios, resolvido a superar seu medo curioso de cair fisicamente no mundo visionário que ele via — um medo de que até então o tinha impedido de seguir o fluxo inverso do tempo por qualquer distância. Ele devia, assumia pra si, vencer o medo se ele quisesse mesmo e versar as tabuletas perdidas dos Deuses. Ele nada mais tinha visto do que alguns fragmentos dos anos de Mhu Thulan imediatamente posteriores ao presente — os anos de sua própria vida; e houve ciclos inestimáveis entre esses anos e o Início.

Outra vez mais, ao perscrutar, o cristal aprofundou-se imensuravelmente, com cenários e acontecimentos que fluíram em movimento retrógrado. De novo as mágicas cifras da mesa escura desvaneceram de sua vista, e as paredes magicamente esculpidas de sua câmara se fundiram em nada mais que um sonho. Mais uma vez, ele ficou tonto com uma vertigem terrível enquanto se curvava acima do redemoinho e da ruptura dos terríveis abismos do tempo no orbe de aspecto planetário. Terrivelmente, considerando seu estado resoluto, ele teria se afastado; mas ele tinha olhado e se inclinou por demasiado tempo. Houve uma sensação de queda insondável, uma sucção de ventos inevitáveis, de redemoinhos que o abateram através da miríade de visões instáveis de sua própria vida passada em anos e dimensões pré-natais. Ele parecia suportar as dores de uma dissolução inversa; ele não era mais Zon Mezzamalech, o erudito e sábio observador do cristal, todavia uma fração real da estranhíssima corrente de tempo que corria ao passado para re-alcançar o Início.

Ele viu indícios de viver incontáveis vidas, morrendo um sem-fim de fenecimentos, olvidando toda vez a morte e a vida que habitava anteriormente. Havia lutado como um guerreiro em batalhas semi-lendárias; era uma criança brincando nas ruínas de uma cidade antiga de Mhu Thulan; foi o rei que reinou quando a cidade estava no primor, era profeta que augurou sua construção e perdição. Uma mulher, ele chorou pelo passado, morta em necrópoles há muito tempo; um mago antigo, murmurando rudes feitiços de feitiçaria ancestral; um sacerdote de algum deus pré-humano, segurou uma lâmina sacrificial em templos-cavernas com pilares de basalto. Vida após vida, era a era, ele retrocedeu por longos ciclos através do qual Hiperbórea erguia-se da selvageria a alta civilização.

Havia se tornado um bárbaro de alguma tribo troglodita, fugindo do lento e turvado gelo de uma antiga era glacial para terras iluminadas pelo rubor vermelho de uma erupção perpétua vulcões. Então, após inumeráveis eras, ele não mais era homem, mas uma besta parecida com o homem, rodando por florestas de vegetação e calamita ciclópicas ou montando ninhos improvisados nos galhos de poderosas cicadáceas.

Através de éons de impressões anteriores, de luxúria primitiva e fome, de terrores e loucura aborígenes, ali habitava alguém — ou algo — que ia além no retrocesso do tempo. Corrupção era geração, geração era corrupção. Em uma lenta visão de mudança reversa, a terra parecia derreter, e se afundava as colinas e montanhas de seus estratos ulteriores. Sempre o sol ficava maior e mais quente acima dos pântanos fumegantes que fervilhavam de uma vida mais rude, com vegetação mais abundante. E aquilo que teria sido Paul Tregardis, que fora Zon Mezzamalech, jazia parte de toda a monstruosa devolução. Voava com asas pontiagudas de um pterodáctilo, nadava em mares tépidos com o vasto e terrível tamanho de um ictiossauro, urrava com a garganta encouraçada de algum behemoth esquecido para a enorme lua que ardia além das névoas primordiais. Após séculos de imemorial grosseria, tornou-se um dos homens-serpentes perdidos que criaram suas cidades de gnaisse negro e travaram suas guerras venenosas no primeiro continente do mundo. Perambulava sem problemas em ruas pré-humanas, em estranhas criptas sinistras. Vigiava alto de torres babélicas os astros jovens; curvava-se com litanias ressoantes a grandes ídolos serpentinos. Através dos anos e das eras do período Ofidiano havia voltado, e era uma coisa que rastejava na lama, que ainda não tinha aprendido a pensar, sonhar e construir. Então sobreveio a época em que não mais existia um continente, unicamente um vasto sapal, um mar de lodo, sem limite ou horizonte, costa ou elevação, que ebulia e retorcia numa ofuscante cortina de vapores disformes.

Ali, no cinzento alvorecer da Terra, a matéria informe que era Ubbo-Sathla repousava em meio ao lodo e vapores. Sem cabeça, membros e órgãos, pairava em seus lados vacilantes, em lenta, movimentação incessável, as formas amórficas que eram os arquétipos da vida terrestre. Horrível que era, se fosse possível apreender o horror; e repugnante, se tivesse sido algo para sentir repulsa. Ao redor disso, propensa ou inclinada no lodo, jaziam as poderosas tabuletas de pedra estrelada que foram escritas com a sabedoria inconcebível dos deuses profanos.

E ali, no cerne de uma busca esquecida, estava traçada a coisa que foi — ou seria algum momento — Paul Tregardis e Zon Mezzamalech. Tornando-se um urodelo amorfo, ele rastejou lenta e inconscientemente através das tabuletas caídas dos deuses, e lutou e devorou cegamente com a outra cria de Ubbo-Sathla.

Sobre Zon Mezzamalech e seu desaparecimento, não há menção em qualquer lugar, salvo breve passagem no Livro de Eibon. A respeito de Paul Tregardis, o qual também desapareceu, tinha uma curta notícia em alguns jornais de Londres, Ninguém soube nada sobre ele: ele se foi como se nunca tivesse existido; e o cristal, presumivelmente, se foi junto. Ao menos, ninguém o encontrou.


Você pode ler essa história no original pelo Cthulhu Files.

Notas:

1 Dinornis era uma espécie que habitavam a Ilha Sul da Nova Zelândia, hoje extinto.

2 Boneco de madeira usado em rituais de adoração.


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