[V.A. Tradução] Olimpiodoro, o Jovem (495–570)  —  A Vida de Platão


Platão — Jusepe de Ribera


Retirado do site Platonic Philosophy em que utilizava a edição em inglês de George Burges, na qual algumas notas do tradutor foram omitidas e mudanças foram realizadas no texto para facilitar a leitura. Salvo passagens de tradução mais interpretável que fora consultada da edição da editora Bloomsbury marcadas com [].

Vamos então, iremos falar da família do filósofo, não pelo propósito de prolixidade, mas de benefício e instrução para aqueles, que vão de encontro a ele. Pois ele não foi “um Ninguém,” mas — 

Para muitos na humanidade ele foi importante.

Pois de Platão é dito ter sido o filho de seu pai Aristão, o filho de Arístocles, de quem descendia sua família até Sólon, o legislador; e daí ele escreve, em imitação ao seu ancestral, As Leis em doze livros, e a Constituição Política em onze. Ele veio ao mundo por sua mãe Perictione, de quem descendia de Neleu, o filho de Codro. Pois o que dizem é que Apollo em uma visão tinha se relacionado com sua mãe Perictione, e, surgindo na noite para Aristão, ordenou-lhe para não se relacionar com Perictione até a hora que desse à luz. E assim ele seguiu. E seus pais o tomaram após seu nascimento, e enquanto era uma criança, colocaram-lhe sobre o Monte Hymettus, intencionando fazer um sacrifício para as deidades ali residentes, nomeando, Pã, as Ninfas, e Apollo, que presidia sobre os pastores. Porém enquanto estava li deitado, abelhas vieram e preencheram sua boca com o mel do favo, de modo que se possa dizer verdadeiramente dele — 

De sua boca fluía uma voz muitas vezes mais doce que mel.

E ele chamava a si mesmo em cada canto e para um companheiro-escravo com os cisnes, como se ele tivesse procedido de Apollo; pois o pássaro pertence a Apollo. Em sua vida recente ele foi primeiro um pupilo de Dionísio o Mestre-Gramático, para compreender o curso comum de instrução, de quem ele faz menção nos Rivais, de acordo que Dionísio não esteja sem partilha de lembrança por parte de Platão. Depois dele ele serviu-se de Aristão o Argivo, como seu mestre de ginástica, de quem, eles dizem, seu nome havia tornado-se Platão, sendo chamado anteriormente de Arístocles, depois de seu avô; e ele era chamado Platão, por ter as duas partes superiores de seu corpo, bastante largas, nomeando, seu peito e fronte, como prova a sua imagem, posta em qualquer representação que seja. Mas outros assertam que não era por esse motivo que seu nome havia mudado, mas levando em conta a abrangência, difusividade, e abertura do estilo adotado por ele; como eles mesmo dizem de Teofrasto, que era chamado previamente de Tirtamo, e seu nome foi alterado para Teofrasto por conta da natureza divina de sua linguagem. Pois seu mestres-musical havia sido Drácon, o pupilo de Dâmon, de quem ele menciona na República. Essas eram as três coisas que os garotos em Atenas foram ensinados, eu digo gramática, música, e pugilismo, não simplesmente por si mesmos, mas gramática, para ornamentar a linguagem natural para eles; música, para domar paixões violentas[1]; e pugilismo e ginástica, para fortalecer o estado de anseio. Nesses três pontos Alcibíades aparenta ter sido instruído por ele; e portanto diz Sócrates a ele, “Mas para tocar na flauta, não estava disposto,” e o que se segue.[2] (Platão) foi semelhante aos pintores, de quem ele derivou algum benefício na mistura de cores, do qual ele faz menção no Timeu. Subsequentemente ele recebeu instruções de escritores de tragédia também, que eram considerados sendo os instrutores da Grécia; e ele foi até eles pelo propósito moral e solene do estilo da tragédia, e a natureza heroica de seus assuntos (selecionados por ele); e ele fez-se familiar com os poetas do ditirambo, pela honra de Dionísio, de quem diziam ser o supervisor da geração; pois para a deidade o Ditirambo é sagrado, de quem igualmente possui seu nome; pois Dionísio é Ditirambo, como sendo procedido por duas portas, nomeado, Sêmele e a coxa de Júpiter. Pois os antigos costumavam chamar as coisas causadas pelos nomes da causa; como chamam Dionísio do mesmo modo[3]: e por isso Proclo diz sobre isso — 

[Tudo que aos pais fostes profetizados,[4]
Foi-me contemplado nos filhos nomeados.]

Agora que exercitou por si o Ditirambo é evidente do Fedro, um diálogo que sopra muito o estilo ditirâmbico; já que como Platão escreveu, como reportado, que o diálogo é o primeiro. Ele considerou igualmente com grande prazer Aristófanes, o escritor cômico, e em Sófron; de quem ele se beneficiou em seus diálogos. E ele reportou ter estado tão agraciado, que, quando morreu, (cópias de) Aristófanes e Sófron foram encontrados em seu sofá; e ele mesmo fez esta epigrama sobre Aristófanes — 

As Cárites, quando anseiam achar
Um templo, que p’ra sempre viverá,
Dito, terem visto, só a mente
De Aristófanes para dar.

E ele fez graça de Aristófanes em seu diálogo (chamado) O Banquete, como se tendo derivado algum benefício no estilo da comédia. Pois após fazê-lo um hino ao Deus do Amor, ele o introduz como aproveitador (na conversa) soluçando, e impossibilitado de finalizar o hino. Ele compôs igualmente Tragédia e poesia ditirâmbica, e algumas outras coisas; tudo de que ele queimou, após quando começou a associar-se com Sócrates[5], enquanto pronunciava um verso desse tipo — 

Aproxime-se Hefesto! Venha pois, Platão necessita auxílio.

E um certo Anatólio, um gramático, falando (novamente) sobre [recitar essa linha a Hefesto]. Que foi apontado governador da cidade; dizendo — 

Aproxime-se Hefesto! Venha pois, Pharos[6] necessita auxílio.

Eles dizem, além disso, que quando Sócrates estava prestes a recebe-lo (como discípulo), ele viu, como uma visão em sonho, que um cisne sem asas havia se ajeitado em seus joelhos; e, virando-se rapidamente, voou para o céu, e cantou algo tão doce, que havia encantado todos que ouvira-o; e isso indicou a fama futura do homem. Mas após a morte de Sócrates, ele fez uso novamente do Crátilo, de um da seita de Heráclito, como seu professor; sobre quem ele compôs o diálogo de tal nome, inscrevendo-o Crátilo, ou Sobre a Correção dos Nomes. Posteriormente ele navegou para a Itália; e descobriu que Arquitas tinha estabelecido ali uma escola de Pitagóricos, ele novamente teve como professor o Pitagórico de mesmo nome; ali ele havia feito menção de Arquitas.

Mas desde que é requisito para o filósofo gostar de ver as obras da Natureza, ele zarpou para a Sicília também, para observar as crateras de fogo que são o [Monte] Etna, e não por causa da culinária Siciliana, como tu, nobre Aristides, dizeis. E, enquanto ele estava em Siracusa com Dionísio o Grande, ele esforçou-se para alterar a tirania lá para uma aristocracia; para o propósito tal tinha ido até ele (Dionísio); e o último interrogando-o — Quem você pensa ser o mais feliz dentre os homens? Fazendo graça achando que o filósofo diria, por bajulação, que era ele, Platão respondeu que o que Sócrates fora (Filósofo). (E quando) Dionísio perguntou-lhe novamente — O que você considera como o trabalho do homem de estado? Platão replicou — Para fazer os cidadãos melhores. (E quando) ele perguntou uma terceira vez — O que então? Parece-lhe o jeito certo de um juiz agir? — Pois Dionísio tinha a reputação de agir como juiz corretamente — Platão disse, não se rebaixar — É de fato algo, e do homem de estado a maior parte; pois eles, os quais agem como juiz corretamente, são como costureiros de roupa, que cosem partes novas para roupas rasgadas. (E quando) ele perguntou uma quarta vez — O que você acha, de ser um tirano? Não é algo bravo de se ser? Platão respondeu — De todas a mais covarde; dês que ele teme a navalha do barbeiro, para não perder sua vida por isso. Ao que se segue Dionísio, estando bem entediado, ordenou-lhe, enquanto o sol ainda estava sobre a terra, para retirá-lo de Siracusa; e além do mais Platão foi-se retirado com desonra de Siracusa.

Em sua segunda jornada a Sicília a razão é essa. Após a morte de Dionísio o Grande, Dionísio [segundo], o filho de Dionísio, sucedeu-lhe. Tendo Díon como seu tio, que havia sido um companheiro de Platão durante sua primeira vinda. Díon portanto escreve-lhe (dizendo) que — “Se você estivesse presente agora, haveria esperança de tornar tirania em aristocracia.” Pois por tal propósito, ele fez uma segunda viagem, foi falsamente acusado pelos lanceiros assistentes de Dionísio, que ele estava planejando tornar o governo de Dion, e depor Dionísio; ao ser dominado, a mentira foi entregue por Dionísio a Polis de Egina, que estava em comércio com a Sicília, para ser vendido. E ele sendo levando Platão para Egina, lá encontrou Aniceres, o Líbio, que estava prestes a zarpar para Elis com o propósito de entrar na competição de biga com quatro cavalos; e encontrando-se na Pólis ele comprou Platão dele, tendo conseguido glória, superior a qualquer vitória de biga; respeitando o que Aristides diz que ninguém teria conhecido Aniceres, se ele não tivesse comprado Platão.

Em sua terceira viagem a Sicília esse é o motivo. Díon, após ter sido banido por Dionísio e tirado de suas propriedades, foi lançado na prisão. Ele escreve, portanto, a Platão, que Dionísio prometeu soltá-lo, se Platão retornasse para velo novamente; quando ele prontamente realizou a terceira jornada para ajudar um amigo. E isso é tudo sobre as viagens do Filósofo para a Sicília.

Deve ser sabido também que ele foi para o Egito para ver o sacerdócio ali, e aprender deles a ciência de um sacerdote. Portanto ele diz no Górgias — “Não, pelo cão,” que era um deus no Egito. Por isso, as quais estátuas temos entre os Gregos, Animais tem entre os Egípcios, sendo através dos símbolos de cada um dos deuses para quais eram dedicados. Estando animado, por reunir-se com os magos, mas impossibilitado de alcança-los por consequência de uma guerra no período na Pérsia, ele partiu para a Fenícia; e encontrando-se lá com magos, ele obteve a ciência dos magos; e portanto ele aparenta no Timeu em questão de arte sacrificial ser hábil, enquanto fala dos símbolos do fígado e entranhas, e assuntos do tipo. Mas isto deveria ter sido dito antes da declaração das causas das suas viagens à Sicília.

Em seu retorno a Atenas ele estabeleceu uma escola na Academia, por separar uma porção do Ginásio para um bosque sacro para as Musas; e lá Timon, [o misantropo], associou-se com Platão sozinho. Muitas pessoas mesmo ele atraiu para aprender, ambos homens e mulheres em trajes masculinos, por prepara-los para ouvi-lo., e mostrar-lhes que sua filosofia era superior por qualquer amor ao trabalho. [Pois ele se dissociou da ironia socrática, e frequentar constantemente a Ágora e as oficinas e de perseguir os jovens para engajá-los em uma conversação: e ele se dissociou também da solene dignidade dos Pitagóricos — mantendo as portas fechadas, e ‘Ele mesmo disse’ — por conduzir si mesmo mais socialmente com todo mundo.] Após ter feito muitos de seus admiradores, e beneficiando a maior parte deles, quando ele estava prestes a morrer, ele teve um sonho, de como havia se tornado um cisne, ele foi de árvore em árvore, e causou [confusão extrema entre caçadores. Simias, o Sócratico interpretou esse sonho como se segue: que Platão seria difícil de compreender para aqueles que o sucedessem e que o quisessem explicá-lo (exêgeomai): e para comentadores (exêgêtai) que buscassem alcançar os conceitos (ennoiai) dos antigos fossem como apanhadores de aves, e Platão é dificultoso de captar desde que é possível de interpretar suas palavras no nível da filosofia natural (phusikôs), ético (ethikôs), ou teológica (theologikôs) — em resumo, em muitos sentidos diferentes — como é no caso de [palavras] Homero. Pois essas duas almas são ditas terem sido abraçadas de todo modo[7], que é possível entender as palavras de ambos de todos os modos possíveis.]

Após sua morte, os Atenienses enterraram-no de modo com muito valor, e eles inscreveram sobre sua lápide — 

Esses dois, Esculápio e Platão, que Apollo gerou;
Um, que pode salvar a alma, o outro, o corpo.

E assim foi-se tratado a respeito da família do Filósofo.


Notas:

¹Do poder da música para afastar sentimentos a prova mais factícia é dado no Epigrama — 

A Música tens encantos que suavizam a fera selvagem;
E portanto munidos estão para um festejo na cidade.

²A passagem sendo em, Primeiro Alcebíades [106E].

³ Isso eu confesso não compreender. O sentido parece requerer “tal como chamam vinho Dionísio” …

[4] Foi realizado um meio termo tentando manter a sabedoria poética em tais versos. (N.T.)

[5] Trecho de difícil compreensão que consta em três traduções diferentes modos claramente conflituosos de se entender, como em Thomas Taylor “All which burned as soon he began to associate with Socrates”, em George Burges “All which he burnt, after he had made a trial of an intercourse with Socrates” e de Michael Griffin “He burned them all after he had experienced the lifestyle of Socrates,”. Nesse caso apenas por jugo pessoal, T. Taylor parece ser abrangente para não se limitar e deixar aberto a interpretação essa passagem não-uniforme. (N.T)

[6] Farol de Alexandria na península conhecida como Pharos. (N.T)

[7] Acho essa nota da edição da Bloomberg assim como essa passagem como um todo ser feito na tradução de Michael Griffin: “Nota 67. Olimpiodoro usa a metáfora dos modos musicais, tal como dório e o Iônico como sistemas de afinação de um instrumento. Platão e Homero usaram todas as diferentes ‘afinações’, no sentido que suas palavras podem ser simbólicas ou alegoricamente interpretados em todos os níveis de realidade. Os Neoplatonistas tinham importantíssimos projetos de exegese alegórica; considerando por exemplo as introduções dos comentários de Proclo sobre o Timeu ou Parmênides, onde os personagens dos diálogos são cuidadosamente interpretados alegoricamente.”(N.T)

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