[V.A. Tradução] Proclo — Elementos de Teologia 

[De acordo com a organização do tratado, começando pelo Uno acima de todos, descendo até a matéria.]

(Observação: cada citação utilizando [] são formulações simbólicas feitas por mim a respeito da seção do tratado Procleano)


(A) Do Um e do Múltiplo.

1°. Proposição: Todo múltiplo participa de algum modo da unidade.

Por suposição toda multiplicidade de nenhum modo participa da unidade. Nem tal múltiplo como um inteiro ou uma de suas partes serão Um; cada parte de si será composto de partes até o infinito; desse infinito de partes cada, uma vez mais, será infinitamente múltiplo; pois o múltiplo que de nenhum modo participa de quaisquer unidade, nem como um inteiro ou em relação a suas partes, será de infinitude de todo modo e a respeito de cada parte. Por cada parte do múltiplo — pegue qualquer uma — deve ser um ou nenh-um¹; se nenh-um, então muitos ou nenhum. Mas se cada parte for(ser) nenhum, o todo será nada; se muitos, feito será de uma infinidade de infinitos. Isto sendo impossível: se, de um lado, nada do que é feito de uma infinidade de infinitos (já que o infinito nada pode exceder, mas a única parte é excedida pela soma); do outro lado, nada pode ser feito de partes que nada são. Cada múltiplo, portanto, de algum modo participa da unidade.

[1] De acordo com a tradução de Dodds “not-one” traduzido como não um, será usado como ‘nenh-um’ pois soa apropriado a proposta original.

2°. Proposição: Tudo que participa da unidade é ambos um e nenh-um.

Na medida em que não pode ser pura unidade (já que participação na unidade implica uma participação distinta), sua ‘participação’ significa que ela tem a unidade como um efeito, estando sujeito ao processo de tornar-se um. Agora não será nada mais que sua própria unidade, é um simples ‘um’ e, portanto, não pode participar da unidade, mas deve ser pura unidade. Porém se houver algum papel outro que não a unicidade, em virtude da característica é nenh-um, logo não será unitariamente desqualificado. Assim sendo um e ainda (enquanto unidade participante) em si nenh-um, ambos é um e nenh-um. De fato é unidade com algo adicional, e está em virtude da adição de nenh-um. Embora um como afetado pela unidade. Tudo, portanto, que participais da unidade é ambos um e nenh-um.

3°. Proposição: Tudo que se torna um torna-se por participação da unidade.

Para o que vier a ser um é em si nenh-um, porém é um na medida que afetado pela participação da unidade: uma vez que, se as coisas que não estão em si (um) devem tornar-se um, eles certamente o fazem, vindo juntos e por comunicação um no outro, e assim são submetidos à presença da unidade sem ser unitariamente inqualificável. Até o momento, então, enquanto prosseguem ao processo de tornar-se um, eles participam da unidade. Se já forem um, não poderão tornar-se um: nada torna-se o que já é. Mas de um prévio nenh-um tornar-se-ão um, sua unidade deve ser devida a um “um” que tenha entrado neles.

4°. Proposição: Tudo que está unificado é diferente do próprio Um.

Para o que está unificado, deve participar de algum modo da unidade, nomeadamente, a esse respeito, em que se diz ser unificado (3° Prop.); o que participa da unidade é ambos um e nenh-um (2° Prop.). Todavia o Um em si não é um e nenh-um: pois se também for um e não um, então a unidade que ele contém conterá, por sua vez, este par de elementos, aí haverá uma regressão infinita, pois não encontraremos uma unidade simples na qual nossa análise possa parar, mas tudo será um e não um. O unificado, portanto, é algo distinto do que o Um. Pois o Um, Para o Um, se for idêntico ao unificado, será infinitamente múltiplo, como também cada uma das partes que compõem o unificado.

5°. Proposição: Cada múltiplo é posterior ao Um.

Por suposição o múltiplo seja anterior ao Um. O Um portanto participará do múltiplo, todavia o múltiplo anterior não participará do Um, a partir disso, em primeiro lugar, existe como múltiplo antes do Um vir a ser, e não poderá participar do que não existe; segundo, porque o que participa do Um é ambos um e nenh-um (2° prop.), porém se o Primeiro Princípio for pluralidade, *nenhum ‘um’ existiria como agora.* Mas é impossível que haja um múltiplo que não participe de algum jeito do Um (1° Prop.). Portanto o múltiplo não é anterior ao Um.

*(Seção que está pra ser mais analisada com melhor tradução)

Suponha-se agora um múltiplo coexistindo com o Um; que os dois princípios são coordenados por natureza (as suas coordenações temporais não há tal objeção): então o Um não é múltiplo em si, ou o múltiplo um, entretanto eles existem lado a lado princípios contrastantes, na medida em que nenhum deles é anterior ou posterior ao outro. O múltiplo, então, será em si nenh-um, e cada uma das partes do nenh-um, prosseguirá ao infinito: o que é impossível (1° Prop.). Por sua própria natureza, logo, participa do Um, e será impossível de encontrar qualquer parte que não seja um; se então não é um, será uma infinita soma de infinitos, como foi mostrado. *Ademais participa do Um de qualquer modo.*

Se então aquele Um cuja unidade não é derivada de modo algum participa da pluralidade. O múltiplo será de todo modo posterior ao Um, *participando do Um, mas não participado por ele.*

6°. Proposição: Cada múltiplo é composto ou de grupos unidos ou de henadas (unidades).

Pois é evidentemente impossível que cada constituinte de um múltiplo deva ser, de seu modo, pluralidade pura, e cada constituinte dessa pluralidade novamente outra pluralidade (1° prop.). E se a parte constituinte não é pluralmente pura, , é ou grupo unificado ou uma henada: um grupo unido se há união por participação, uma henada se for um constituinte do primeiro grupo unificado. Pois há o ‘Um em si” (4° prop.), deve haver o primeiro participado, que é o primeiro grupo unificado. E esse primeiro grupo é composto de henadas: pois se é composto de grupos unificados, esses por sua vez serão compostos, adiante ao infinito. O primeiro grupo unificado, então, é composto de henadas; nós então achamos verdadeiro o que enunciamos.

(B) Das Causas

[O Uno é como o Sol, seu calor é uma irradiação da sua Bondade e Amor envolvendo seus filhos.]

7°. Proposição: Cada causa produtora é superior à qual é produzido.

Se não é superior, deve ser ou inferior ou igual. Vamos supor primeiramente que seja igual. Agora, ou o produto tem seu próprio poder de produzir um outro princípio, ou são ao todo estéreis. Mas se é suposto ser estéril, é adiante provado inferior ser ao seu produtor: o impotente não é igual ao fecundo no que tange ao poder de criação. E se for produtivo, o seguinte produto será então ou igual a sua causa ou desigual. Mas se for igual, e se for isso verdadeiramente universal, que o produtor produz uma consequência igual a si, então todos os seres seriam iguais aos outros, ninguém sendo melhor que o outro. E se não for igual, nem o próprio produto será igual ao produtor em si. Pois poderes iguais criam iguais; mas se a causa, não sendo igual ao consequente, onde ainda sendo igual ao seu predecessor, devemos ter aqui poderes iguais criando desiguais. Portanto é impossível o produto ser igualmente ao produtor.

Novamente, é impossível ser produtor ainda (mais)* inferior. Pois ao dar existência ao produto, deve fornecer o poder para essa própria existência. Mas se é si mesmo produtor de todo o poder em sua consequência, será possível criar um semelhante em si mesmo, ou seja, para elevar seu próprio poder. Os meios para tal não podem faltar, uma vez que há força suficiente para criar; nem poderá faltar à vontade, pois que por natureza todas as coisas tem aptidão para seu bem. Portanto, se lhe fosse possível criar algo mais perfeito que si, tornaria a fazer algo mais perfeito que seu consequente.

Desde, então, o produto não é igual a seu produtor ou superior a ele, o produtor é necessariamente superior à sua criação.

8°. Proposição: Tudo que de algum modo participa da Bondade é subordinado ao Bom primordial que é nada menos que bom.

Pois se todas as coisas que existem desejam seu bem, é evidente que a Bondade primordial está além das coisas que existem. Pois se for identificado com qualquer coisa existente, quer então um ser existente ser idêntico com o Bom, e por essa identidade exclui-se de desejar a Bondade (desde que todo apetite implica a falta de, e uma falta com o objeto almejado); ou (sendo isso impossível) sua existência está para ser distinguida de sua bondade, essa última será imanente na primeira e participada por ela. Se então, não é o Bom, mas um bom, ser imanente em um participante particular: é apenas uma bondade que esse participante anseia, não a Bondade não qualificada desejada por todas as coisas existentes. Pois sendo esse o objeto comum de todo o desejo, *enquanto que um bem imanente pertence ao participante.*

A Bondade primordial, então, é nada além de bondade. Adicione qualquer outro atributo, e por essa adição você reduz sua bondade, alterando-o do Bom inqualificável para um bom particular. Por esse caráter a mais, que não é o Bom mas algo menor, por sua coexistência ter reduzido a Bondade.

9°. Proposição: Tudo que é autossuficiente tanto na sua existência ou em sua atividade é superior ao que não é autossuficiente mas dependente de outra existência que é a causa de sua integridade.

Pois se para tudo que existe haver uma aptidão natural por seu bem; e se além disso há coisas quais derivem seu bem-estar de si e coisas que demandem auxílio, coisas que têm a causa de seu bem dentro deles e coisas para as quais ele é externo: então na proporção em que os primeiros estão mais próximos do doador de seu desejo, devem ser eles superior a aquele que necessita causas exteriores do bem e tem sua existência ou sua atividade completada apenas pela recepção do exterior. Desde, então, o autossuficiente possui mais semelhança com o Bem em si (ainda assim, fica aquém das expectativas,* pois participa [do] bem e não do próprio bem primordial)*, é assim de algum modo semelhante ao Bom, desde que pode fornecer sua bondade fora de seu próprio ser, enquanto que aquilo que não só participa, mas age através de um meio externo, está em uma nova distância da Bondade primordial, o que não é outra coisa senão bom.

10°. Proposição: Tudo que é autossuficiente é inferior ao Bom inqualificável.

Para o que mais é o autossuficiente do que aquilo que tem seu bem de e em si? E isso quer dizer que isso de fato está cheio de bondade, e participa do bem, porém não é o Bem inqualificado em si: o último, como foi mostrado (8° prop.), transcende participação e plenitude. Se, então o autossuficiente preencheu a si com bondade, aquilo de que foi preenchido deve ser superior a [necessidade de] autossuficiência e além da autossuficiência. Nada falta ao Bem inqualificável, já que não possui desejo em vista de outro (por desejo nele seria uma falha na bondade); mas não é autossuficiente (para tal seria um princípio preenchido com bondade, não o Bom primordial).

11°. Proposição: Tudo que existe procede de uma singular causa primeira.

Pois caso contrário todas as coisas seriam sem-causa; ou então a soma de sua existência seria limitada, e há um circuito de causalidade dentro da soma; ou terá um regresso ao infinito, causa atrás de causa, então a cadeia de causas anteriores nunca cessará.

Mas se todas as coisas são não-causadas, não iria haver sequência de primário e secundário, aperfeiçoando-se e aperfeiçoado, regulador ou regulado, gerador e gerativo e gerado, ativo e passivo; e todas [as] coisas seriam ininteligíveis. Pois a tarefa da ciência é o reconhecimento das causas, apenas quando reconhecendo nós conhecemos as causas das coisas então podendo dizer que as conhecemos.

E se causas transmitem-se em um circuito, as mesmas coisas serão simultaneamente anterior e consequente; isso é, já que toda causa produtiva é superior ao seu produto (7°. Prop), cada um será ao mesmo tempo mais eficiente do que o resto e menos eficiente. (será indiferente que façamos a conexão de causa e efeito e derivemos um do outro através da maior ou menor quantidade de causas intermediárias; pois a causa de todos esses intermediários será superior a todos eles, quanto maior seu número, maior será a eficiência daquela causa.)

E se a acumulação de causa seja prosseguida até a infinidade, causa atrás de causa para sempre, novamente todas as coisas seriam irreconhecíveis. Pois nada infinito poderá ser apreensível; sendo as causas desconhecidas, não haveria conhecimento de suas consequências.

Desde, que, coisas não podem ser não-causadas, e causa não é convertível com efeito, e regressão infinita é excluída, resta apenas a primeira causa de todas as coisas existentes, donde eles procedem como ramos em um galho, alguns próximos a ele e outros mais remotos. Já estabelecemos que não há mais de um primeiro princípio, portanto a subsistência de qualquer múltiplo é posterior ao Um (5°. Prop.).

12°. Proposição: Tudo que existe tem o Bom como seu princípio e causa primeira.

Pois se todas as coisas seguem de uma causa primeira (11°. Prop), devemos suster que essa causa é ou o Bom ou superior ao Bom. Mas se é superior ao Bom, exerce ou não exerce alguma força sobre as coisas e sobre a natureza das coisas? O que não seria uma visão estranha: assim iria perder seu título *para* o nome da causa. Pois algo precisa em todo caso atravessar da causa para o efeito; e deve ser especialmente verdade da primeira causa, donde todas as coisas dependem e de onde todas as coisas devem sua existência. Mas se as coisas tem participação nessa suposta causa superior, como elas tem no Bom (8°. Prop.), elas possuirão alguma característica superior a bondade, alguma característica derivada dessa primeira causa: certamente o princípio superior, transcendendo o Bom, não outorga aos seres secundários um dom mais significante do que o Bom ao qual transcende. E que característica devia ser essa que é maior que bondade? Pois o próprio termo ‘maior’ queremos dizer qual participa em maior medida do bom. Se, então, o não-bom não pode ser chamado ‘maior’, então é necessariamente posterior ao Bom.

Novamente, se todas as coisas que existem possuem desejo rumo ao Bom, como pode haver uma outra causa além dela? Pois eles desejarem esse outro também, como pode seu desejo ser preeminente em direção ao Bom? E se eles não o desejam, como é que eles não têm desejo em direção à causa universal de onde eles procederam?

De novo, se o Bom de onde todas as coisas dependem, o Bom deve ser o princípio e primeira causa de todas as coisas.

13°. Proposição: Cada bem tende a união do que dele participa; e toda unificação é um bem; e o Bom é idêntico com o Um.

Pois se ela pertence ao Bom para conservar tudo que existe (e apenas por nenhuma outra razão que todas as coisas o desejam); e se igualmente aquilo que conserva e sustém juntos o ser de toda coisa é a unidade (já que por unidade cada um é mantido ser, mas por dispersão deslocado da existência): então o Bom, onde estiver presente, torna o participante um, e sustém seu ser juntos na virtude dessa unificação.

Segundamente, se então pertence a unidade trazer e manter cada coisa juntos, por sua presença faz toda coisa ser completa. Desse modo, então, o estado de unificação é bom para todas as coisas.

Mas novamente, se unificação é um bem em si, e todo bem tende a criar unidade, então o Bom inqualificado e o Um inqualificado fundem-se em um singular princípio, um princípio que torna coisas unas e ao fazê-lo torna-as boas. Disso é que as coisas que de algum modo se distanciaram do bem ao mesmo passo estão desprovidos de participação na unidade; e de modo como as coisas que perderam sua porção na unidade, estando infectados com divisão, estão privadas de seu bem.

Bondade, então, é unificação, e unificação bondosa; o Bom é um, e o Um é o bom primordial.


(C) Dos Graus de Realidade

[As Três Hipóstases: O Um, o Intelecto e a Alma.]

14°. Proposição: Tudo o que existe ou é movido ou não-movido; e se o primeiro, seja por si só ou por outro, ou seja, ou intrinsecamente ou extrinsecamente: de modo que tudo seja imóvel, movido intrinsecamente, ou extrinsecamente movida.

Pois dês que há coisas extrinsecamente movidas segue-se que há algo também não-movido, e uma existência intermediaria que é automovida.

Suponha-se todo movimento extrínseco derivado de um agente que está si mesmo em moção; então temos ou um circuito de movimento comunicado ou regressão infinita. Mas nenhum desses é possível, porquanto na medida em que a soma da existência é limitada por um princípio primeiro (11°. Prop) e o movente é superior ao movido (7°. Prop). Deve haver, então, algo imóvel que é o primeiro movedor.

Mas se assim for, deve haver algo também automovido. Pois imagine todas as coisas em repouso: o que seria a primeira em movimento? Não o imóvel, por força de sua natureza. E não o extrinsecamente movido, dês que sua moção é comunicada do exterior. Sobra, então, que a primeira coisa posta em moção é a automovida, que é de fato o elo entre o imóvel e as coisas que são movidas extrinsecamente. de uma só vez movente e movido, o automovido é um tipo de meio termo entre o movente não-movido e aquele que meramente é movido. Tudo que existe, portanto, é imóvel, intrinsecamente movido, ou extrinsecamente movido.

Cor². Disso é aparente também que das coisas movidas, o automovido tem primazia; e dos moventes, o imóvel.

[2] Corolário.

15°. Proposição: Tudo que é capaz de se reverter sobre si mesmo é incorpóreo.

Pois não está na natureza de quaisquer corpos a reversão sobre si mesmo. Aquilo que reverte sobre qualquer coisa está reunido com aquilo que está sobre o revertido: portanto é evidente que cada parte do corpo revertida sobre si mesma deve estar reunido com cada outra parte — desde que auto reversão seja precisamente o caso em que o sujeito revertido e aquele acima que é revertido se tornem idênticos. Mas isso é impossível para um corpo e universalmente para cada substância divisível: pois o inteiro de uma substância divisível não pode reunir-se com o todo de si mesma, por causa da separação das próprias partes, que ocupam diferentes posições no espaço. Não está na natureza, então, de qualquer corpo para reverter sobre si mesmo para que então o inteiro seja revertido sobre o inteiro. Assim se há qualquer coisa que é capaz de reverter sobre si mesmo, ele é incorpóreo e sem partes.

16°. Proposição: Tudo que é capaz de reverter sobre si mesmo tem existência separada de toda corporificação.

Pois se houvesse qualquer corpo de onde fosse inseparável, não poderia ter atividade separável do corpo, desde que é impossível que se a existência seja separada dos corpos a atividade, donde procede da existência, deva ser separável: se então, a atividade fosse superior a existência, disso o último necessitaria de um corpo enquanto o primeiro for autossuficiente, sendo dependente não de corpos mas sobre si mesmo. Qualquer coisa, logo, que é inseparável em sua existência é para ser igualmente ou até em grau maior inseparável em sua atividade. Mas se então, não se pode reverter sobre si: pois aquilo que reverte sobre si mesmo, sendo outra coisa que corpo (15. Prop.), tem uma atividade independente do corpo e não conduzida através ou com sua cooperação, desde que nem a atividade em si ou o fim para qual é direcionado requer o corpo. Consequentemente, aquilo que reverte sobre si deve ser inteiramente separável dos corpos.

17°. Proposição: Tudo que originalmente é auto movente é capaz de reverter sobre si mesmo.

Pois, se move si mesmo, sua atividade motiva é direcionada sobre si mesma, e movente e movido coexistem simultaneamente como uma coisa. *Pois ou ambos move apenas uma parte de si e é movido em outro*; ou o inteiro move e é movido; ou o inteiro origina moção que ocorre em uma parte, ou vice versa. Mas se o movente for uma parte e o outro movido, em si o inteiro não será automovido, dês que será composto de partes que não são auto movidas: terá então a aparência de um auto movente, mas não o será em essência. E se o todo origina a moção que ocorre em uma parte, ou vice versa, aí terá uma parte comum a ambos que é simultaneamente e o mesmo a respeito movente e movido, e é essa parte que é originalmente auto movido. E se um e a mesma coisa move e é movida, terá (como um auto movente) em sua atividade de moção direcionada sobre si mesmo. Mas dirigir a atividade sobre qualquer coisa é virar-se rumo a essa coisa. Tudo, portanto, que é originalmente auto movido é capaz de reversão sobre si mesmo.

18°. Proposição: Tudo o que por sua existência confere um caráter aos outros possui primitivamente aquele caráter que comunica aos destinatários.

Pois se oferece por mera existência, e então confere de sua própria essência, então o que concede é inferior à sua própria essência, e o que é, é mais grandioso e perfeitamente, pelo princípio que quaisquer sejam os produtivos de qualquer coisa sejam superiores ao seu produto (7. Prop.). *Assim o caráter como ele preexiste no seu doador original possui uma realidade maior do que ao caráter concedido: isso é o que o caráter emprestado é, mas não é idêntico com ele, dês que existe primitivamente e o outro apenas por derivação. Pois deve ser aquilo que ou os dois são idênticos e tem uma definição comum; ou não há nada comum ou idêntico em ambos; ou o que existe primitivamente e o outro por derivação. Mas se tivessem uma definição comum, esta não poderia ser, como assumimos, a causa e a outro resultante; um não podia estar em si mesmo e o outro no participante; um não poderia ser o autor e o outro o objeto de um processo. * E se eles não tivessem nada idêntico, o segundo não tendo nada semelhante com a existência do primeiro, não poderia surgir de sua existência. Resta, então, que onde um recebe dádiva de outro em virtude da mera existência, o doador possui primitivamente o caráter que dá, enquanto o recipiente é por derivação o que o doador é.

19°. Proposição: *Tudo aquilo que primitivamente herda em qualquer classe natural de seres está presente em todos os membros da mesma classe, e em virtude de sua definição comum.*

Pois se não for presente em todos os *semelhantes*, mas apenas encontrado em alguns e não em outros, será evidente que não reside primitivamente nessa classe, mas reside primitivamente em alguns e por derivação em outros cuja a sua participação é transitória. Para um caráter que ao mesmo tempo pertence a um sujeito, e não em outro, não pertence a ele primitivamente ou em virtude da natureza do sujeito, mas é adventício e chega ao possuidor de uma fonte alheia.

20°. Proposição: Além de todos os corpos está a essência da alma; além de todas as almas, o princípio intelectivo; e além de todas as substâncias intelectivas, o Um.

Para cada corpo ser movido por algo que não si mesmo: auto movimento é contrário a sua natureza, mas por comunicação na alma ele é movido pelo interior e por causa da alma ele tem vida, Quando a alma é presente, o corpo é em certo sentido auto movido, mas não quando a alma é ausente: mostrando que o corpo é naturalmente movido pelo exterior, enquanto auto movimento é a essência da alma; e um carácter que a alma pela sua mera existência comunica deve pertencer num sentido muito mais primitivo à própria alma (18. Prop.). Portanto a alma está além dos corpos, como sendo auto movida em essência, enquanto elas por participação vêm a ser auto movida.

A alma novamente, sendo movida por si, tem uma posição inferior ao princípio imóvel que é imóvel até mesmo em sua atividade. Para todas as coisas que são movidas o auto movido tem primazia; e para todos os moventes, o imóvel (14 cor. Prop.). Se, portanto, alma é uma causa auto movida de moção, deve então existir uma causa predecessora a moção que é imóvel. Agora a Inteligência é tal causa imóvel de moção, eternamente ativa sem mudança. E é através da Inteligência que a alma participa em perpetuidade de pensamento, como o corpo em auto movimento através da alma: Pois se a perpetuidade do pensamento pertencesse primitivamente à alma ela herdaria, assim como auto movimento, em todas as almas (19. Prop.); portanto ela não pertence primitivamente a alma. Anterior a alma, então, deve haver o primeiro pensador: que é, a Inteligência é anterior as almas.

Mais uma vez, o Um é predecessor à Inteligência. Pois a Inteligência, embora imóvel, ainda não é unidade: e, conhecer a si mesma, é objeto de sua própria atividade. Além disso, enquanto todas as coisas, seja o que for em seu grau de realidade, participa da unidade (1. Prop.), nem todos participam da inteligência: pois para se participar da inteligência é para participar do conhecimento. Desde que conhecimento intuitivo é o início e primeira causa de todo conhecer. Assim o Um está além da Inteligência.

Além do Um não há princípio adiante; pois a unidade é idêntica com o Bom (13. Prop.), e é portanto princípio de todas as coisas, como foi mostrado (12. Prop.).

21°. Proposição: Toda ordem tem seu início em uma mônada e segue para uma coordenação múltipla com ela; e o múltiplo em qualquer ordem pode ser transportado de volta para uma única mônada.

Pois a mônada tem seu status relativo a um princípio originário, e então gera a multiplicidade apropriada. Portanto, uma série ou ordem é uma unidade, nisso a completa sequência deriva de uma mônada seu declínio na pluralidade: se a própria base monádica fosse estéril, não poderia haver ordem e não poderia haver séries.

E na direção reversa a multiplicidade pode ser carregada de volta para uma singular causa comum de todos os termos coordenados. Pois aquilo que é idêntico em cada membro da multiplicidade não procede de um desses membros: aquilo que proceder de um fora dos muitos não é comum a todos, mas é peculiar para a individualidade única desse singular. Dês que, então, em cada ordem há algum elemento comum, uma continuidade e identidade em virtude de que algumas coisas são ditas para coordenar e outros não, é aparente que o elemento idêntico é derivado da inteira ordem de um singular princípio originador. Então em cada ordem ou corrente causal existe uma singular mônada precedente para a multiplicidade, que determina para os membros da ordem sua única relação para com o outro e para com o inteiro. E é verdade que entre membros da mesma série um é a causa do outro; e esse que é a causa das séries como uma unidade deve ser anterior a todos eles, e qua (onde) coordena eles todos devem ser gerados dele, não em suas várias peculiaridades, mas como membros de uma série particular.

Cor. Disso é então aparente que na natureza do corpo unidade e pluralidade coexistem de tal modo que a Natureza única tem as muitas naturezas dependentes dela, e, em contrapartida, essas são derivadas da Natureza una, do conjunto; que a ordem-da-alma, originando da única Alma primordial, descende para o múltiplo de almas e novamente carrega de volta do múltiplo para o um; que a essência intelectiva pertence a mônada intelectiva e o múltiplo de inteligências procedem de uma singular Inteligência e revertendo acolá; dessa para o Um que é antecessor a todas as coisas aí está o múltiplo de henadas (unidades divinas), e para as henadas consequentes do primordial Um, inteligências consequentes da Inteligência primordial, almas consequentes da Alma primordial, e uma pluralidade de naturezas consequentes dessa Natureza universal.

22°. Proposição: Tudo o que existe primitiva e originalmente em cada ordem é um e não dois ou mais de dois, mas único.

Pois, se possível, deixe ser duo (haverá a mesma impossibilidade se haver mais que dois). Ou então, cada um destes dois é primitivamente o que é chamado, ou a combinação de ambos é assim. Mas se a combinação é assim, o que é primitivo será um e não dois. E se cada um individualmente, ambos um é derivado do outro, então só um é primitivo; ou senão os dois estão a um nível. Mas se eles estão a um nível, nenhum agora será primitivo. Pois se nenhum ser primitivo e ainda distinto um do outro, porque deverão pertencer a mesma ordem que o outro? Pois o primitivo é aquilo que nada mais é do que chamado; Mas se cada um desses dois, sendo distintos de seu companheiro, ambos são, e ao mesmo tempo não são, o que são chamados. Se, então, eles diferem, mas não a respeito de sua própria qualidade primitiva (pois ambos têm isso em comum qualidade como efeito primário), o existente primitivo não será o par, mas aquilo por participação daquilo que ambos são descritos como existindo primitivamente.

Cor. Disso então é aparente que o Ser primordial é apenas um, e que não são dois ou mais tipos primordiais de Ser; que a Inteligência primordial é uma, e que não há duas Inteligências primordiais; que a Alma primordial é uma, e conseguinte com cada uma das Formas, assim como a Beleza primordial a Igualdade primordial, e todo o resto dessa maneira; aqui novamente a Forma primordial de um animal é uma, e a do homem também. Pois a mesma prova se aplica a tudo.

23° Proposição: Tudo que é não-participado produz fora de si o participado; e toda substância participada está em elo por tensão ascendente para existências não-participadas.

Pois por um lado o não-participado, tendo status relativo a uma mônada (como sendo sua própria e não a de outra, e como transcendendo os participantes), gera termos capazes de serem participados. Pois ou deve permanecer fixada em esterilidade e isolação, e então falta-lhe um local de destaque; ou senão ir ela irá dar algo de si, do qual o receptor se torna participante, enquanto o fornecido atinge existência substancial como um termo participado.

Cada termo participado, do outro lado, se torna propriedade particular pela qual é participado, é secundário a aquele que em todos é igualmente presente e tem preenchidos todos de seu próprio ser. Aquele que está em um não está em outros; enquanto aquele que está presente em todos, esse deve iluminar todos, não está em qualquer um, mas é anterior a todos eles. Pois ou está em todos, ou em um de todos, ou antes de todos. Mas um princípio que estava em todos seria divido entre todos, e iria requerer um princípio maior para unir os divididos; e adiante, todos os particulares não mais seriam participados do mesmo princípio, Mas esse e aquele outro, através da disjunção de sua unidade. E se estiver em um de todos, não será então a propriedade de todos apenas de um. Já que, então, ele dever ser anterior a todos: isso é, deve ser não-participado.

24°. Proposição: Tudo que participa é inferior ao participado e esse último até o não-participado.

Pois o participante estava incompleto antes da participação, e pela participação foi tornado completo: isso é portanto necessariamente subordinado ao participado, já que se deve sua completude ao ato de participação. Como tendo anteriormente sido incompleto ele é inferior ao princípio do qual o completa.

Novamente, o participado sendo propriedade de um particular e não de todos, tem um modo de substância menor cedido a ele do que o que pertence a todos e não somente um: pois este último é mais próximo de semelhante à causa de todas as coisas, o primeiro é mais longínquo.

O não-participado, então, precede o participado, e esse os participantes. Pois, para o expressar brevemente, o primeiro é uma unidade anterior ao múltiplo; o participado está dentro do múltiplo, e é um e nenh-um; enquanto todos que participam são nenh-um e ainda um.

[Dos Graus de Participação. Monádico = Primordial]

...


Comentários

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *